A Universidade Estadual de Londrina (UEL) desenvolveu um aplicativo (APP) para smartphones que oferece possibilidade de comunicação e informação odontológica para pessoas surdas em atendimento emergencial ou consulta de rotina. O projeto de pesquisa é liderado pelas professoras Elisa Tanaka Carloto e Maria Celeste Morita, do Departamento de Medicina Oral e Odontologia Infantil, do Centro de Ciências da Saúde (CCS).
PARANÁ – As professoras destacam que o aplicativo Odonto Libras é fruto da transferência de tecnologia para a sociedade, a partir da inovação, produção de conhecimento e responsabilidade social.
O aplicativo está disponível para cerca de 300 mil dentistas brasileiros. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que o Brasil tenha cerca de 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva, ou seja, 5% da população do país. Esse inclui as pessoas surdas.
“O APP é totalmente gratuito e já está disponível no sistema Android”, afirma a professora Maria Celeste. “Já está pronto para ser viabilizado para o sistema IOS. A previsão é para 2020”, acrescenta a professora Elisa Carloto. O Odonto Libras é uma segunda etapa do projeto. A primeira foi o desenvolvimento de uma plataforma de comunicação entre dentistas e pessoas surdas para computadores.
O Odonto Libras para celular foi desenvolvido em parceria com a Universidade Aberta para o Sistema Único de Saúde (UMA-SUS), criada em 2010, e a Universidade Federal do Maranhão que detém expertise na produção de protótipos para dispositivos móveis.
A iniciativa também conta com apoio da Associação Brasileira de Ensino Odontológico (Abeno). Na UEL, o Odonto Libras envolveu professores e estudantes da Odontologia, do Design Gráfico e do Departamento de Educação.
Segundo ela, uma paciente surda chegou à clínica com dor e foi diagnosticada com pulpite (inflamação da polpa dentária), necessitando de um procedimento endodontológico (canal). Ela teria de voltar para a restauração do dente, mas não entendeu nem a equipe conseguiu se comunicar. Conforme a professora, alguém da relação da paciente a informou que precisaria retornar para terminar o tratamento.
Os projetos de inclusão social de pessoas com deficiência que têm necessidades especiais são relativamente novos, a partir do marco regulatório para a área. No entanto, não basta apenas a legislação, sendo necessária a criação de medidas efetivas para que a inclusão seja efetiva.
A relação entre profissional da odontologia e pessoas surdas acaba deixando tanto o paciente quanto o dentista em situação de vulnerabilidade. Por isso, o Odonto Libras vem preencher essa lacuna.
FUNCIONAMENTO – Elisa Carloto explica que o Odonto Libras é dividido em duas partes. A primeira é o questionário da anamnese, subdividida saúde geral e inquérito odontológico. No questionário, o paciente informa, por exemplo, seu estado de saúde, medicamentos em uso e doenças. “É muito importante conhecer o estado de saúde do paciente e verificar se há alguma necessidade específica”, afirma Elisa Carloto.
A segunda parte do Odonto Libras consiste em descrever os termos linguísticos da odontologia. O aplicativo lista os termos em duas abas: instrumentos e procedimentos. Conforme a professora Maria Celeste, existem catalogadas cerca de 5 mil palavras no campo semântico da odontologia. “Esses termos não existem em Libras e precisam ser descritos para a pessoa surda. No APP, os termos não são apenas traduzidos, mas descritos e explicados para a pessoa surda”. O intérprete que aparece no vídeo é o professor da UEL Antonio Aparecido de Almeida, surdo.
As professoras dizem que o diferencial dos vídeos no APP está no fato de ter sido gravado por um intérprete surdo, cujos sinais e expressões atingem mais facilmente o paciente surdo. A Libras executada por um intérprete ouvinte pode apresentar variações. Elas dizem esperar que o APP Odonto Libras inspire outras áreas da saúde, para que novos produtos sejam desenvolvidos para melhorar a qualidade da comunicação entre pessoas surdas e profissionais da saúde de diferentes especialidades.
Fonte: https://www.aen.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=104804