Você sabia que os Jogos Surdolímpicos são mais antigos que as Paralimpíadas? Em 2025, a competição completa 101 anos e reafirma o protagonismo da comunidade surda no esporte mundial.
Em 2025, os Jogos Surdolímpicos, conhecidos mundialmente como Deaflympics, completam 101 anos. Criados em 1924, em Paris, muito antes das Paralimpíadas existirem, os Jogos Surdolímpicos foram o primeiro evento internacional que reuniu atletas surdos de vários países. Desde então, acontecem a cada quatro anos e são organizados pelo International Committee of Sports for the Deaf (ICSD) reconhecido pelo International Olympic Committee (IOC) desde 1955.
A edição de 2025 será realizada em Tóquio, no Japão, entre 15 e 26 de novembro, marcando o centenário da competição. Será a primeira vez que o Japão sedia os Jogos Surdolímpicos de Verão e apenas a terceira vez que um país da Ásia recebe o evento. O comitê japonês adotou o lema “With anyone, anytime, anywhere” (Com qualquer pessoa, a qualquer hora, em qualquer lugar), destacando o espírito de encontro e respeito entre as diferentes comunidades surdas do mundo.
Os preparativos no Japão também trouxeram desafios. Há poucos intérpretes especializados em Língua de Sinais Internacional, o que pode dificultar a comunicação entre delegações. Por isso, o governo metropolitano de Tóquio iniciou treinamentos para ampliar o número de intérpretes e fortalecer o reconhecimento da cultura surda.
Os atletas surdos não participam das Paralimpíadas. Isso acontece porque as Surdolimpíadas têm uma organização própria, o ICSD, que existe desde 1924 bem antes do International Paralympic Committee (IPC). A surdez não é considerada uma deficiência física, mas uma diferença linguística e cultural. Por isso, os atletas surdos competem em um evento separado, com comunicação visual e regras que respeitam sua forma de experiência no esporte. Nas Surdolimpíadas, árbitros usam bandeiras no lugar do apito, as largadas são dadas com luzes em vez de som e o público aplaude balançando as mãos, o gesto visual que representa o aplauso na comunidade surda.
Essa autonomia vem de uma longa trajetória. O ICSD sempre defendeu que as pessoas surdas não são definidas por uma deficiência, mas por uma língua e uma cultura próprias. As Surdolimpíadas são mais do que um evento esportivo. São também um espaço de encontro entre comunidades surdas de diferentes países, onde a Língua de Sinais é o ponto de conexão e identidade.
No Brasil, a Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS) coordena o esporte surdo desde 1984. A entidade reúne mais de cinco mil atletas e mais de 120 associações filiadas. Foi também a responsável pela organização da edição de Caxias do Sul 2021, realizada em maio de 2022, com a presença de cerca de quatro mil atletas de mais de cem países.
Mesmo com tantos avanços, a visibilidade do esporte surdo ainda é pequena. Poucos meios de comunicação acompanham as Surdolimpíadas ou divulgam as histórias e conquistas desses atletas. Nenhum canal de TV aberta no Brasil transmite os Jogos, o que deixa a comunidade surda distante de acompanhar seus representantes. Mas há outras formas de assistir e acompanhar as novidades: o canal oficial @Tokyo2025Deaflympics no YouTube e o site https://deaflympics2025-games.jp/ trazem vídeos, notícias e informações sobre o evento.
Os 101 anos das Deaflympics lembram que o esporte surdo é também uma forma de resistência. Cada atleta em campo, na pista ou na quadra mostra que o corpo surdo é forte, expressivo e cheio de movimento. Valorizar essa história é reconhecer que a diferença linguística e cultural é uma riqueza. O som do esporte também pode ser visual.
Fonte: Somos Diversas
