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Audiência pública deve discutir projeto ‘Piloto Surdo’, que cria possibilidade de inserção de pessoas com perda de audição.

É com um passo de cada vez que o piloto alagoano João Paulo Marinho dos Santos, de 32 anos, alça novos e importantes voos. ‘João Avião’, como também é conhecido, é surdo e idealiza diversos projetos no campo da aeronáutica, que visa contemplar outros que sonham com a profissão de piloto no mundo. Ele foi credenciado, em 2013, como o primeiro piloto surdo do Brasil, segundo a escola de Aviação Civil NAV Treinamentos. Aprovado nos testes teóricos da Escola de Aviação Civil de Piloto Privado, em Recife, João foi reprovado no CMA devido à deficiência auditiva.

Há muitos anos, João trava uma batalha para conseguir, assim como ocorre em outros países, princípios para inclusão de pessoas com perda total da audição na aviação do Brasil. E isso está bem próximo de acontecer.

Atualmente, o piloto mora em Nova York, nos Estado Unidos, onde tem permissão para pilotar pequenas aeronaves, aviões simples, com motor pequeno e, no máximo, seis passageiros. Mas, ainda não pode pilotar profissionalmente.

A mais recente vitória dessa longa jornada guiada por João Avião foi a aprovação do projeto “Piloto Surdo”, pela diretoria da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), em Brasília. O próximo passo será uma audiência pública a ser realizada no próximo mês, para aprovação do projeto que cria possibilidades de inclusão das pessoas com pouca ou perda total da audição no mercado de trabalho aéreo, para exercerem o cargo de piloto de avião comercial no Brasil.

Na última semana, o piloto se reuniu, em Nova Iorque, com Priscilla Gaspar, secretária nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que conseguiu da ANAC a deliberação para tal audiência.

Para ele, esse grande passo é motivo de alegria e inspiração para tantos que precisam encarar de frente o preconceito imposto diariamente pela sociedade.

“Acredito que vá inspirar outras pessoas na mesma condição a seguir o sonho de ser piloto. Nós prezamos, prioritariamente, pela segurança no voo, mas também na acessibilidade e direito humano”, explica João.

O Regulamento Brasileiro da Aviação Civil n° 67, que trata dos requisitos para a concessão de Certificado Médico Aeronáutico (CMA), no item 67.221, dispõe que o candidato deve ser capaz de ouvir uma voz em intensidade normal em pelo menos um dos ouvidos. Segundo a Anac, esse regulamento já foi entregue por diretores da agência a representantes de surdos interessados na carreira de piloto.

João Avião também é fundador da Associação Nacional de Aviação de Surdos (ANAS), com sede em São Paulo . No ano passado, apresentou, em Nova Iorque, um projeto à Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), voltado à acessibilidade e segurança de voo. O projeto fundamenta-se nos direitos humanos, não apenas em prol de pilotos surdos, mas, também, pela garantia da saúde auditiva e direito do piloto ouvinte.

Na prática, o projeto consiste no uso do sistema DataLink/CPDLC, no qual a aeronave possui tecnologia que possibilita a todos os pilotos ouvintes e surdos usarem a comunicação, através de dados ou texto com o controlador de tráfego aéreo. É um sistema, segundo destacou João, mais seguro, com boa qualidade e que processa informação em curto tempo e com menor carga de trabalho.

O começo de tudo
João Paulo se tornou o primeiro piloto estudante surdo do Brasil. Com o apoio dos pais, a professora Maria do Carmo Marinho dos Santos e o comerciante José Paulo dos Santos, o piloto viu sua vida social e profissional decolar. Durante a gravidez, sua mãe teve rubéola. Ele nasceu surdo e somente com dois anos a situação foi percebida por seus pais.

João passou por diversos desafios ao longo da vida, o primeiro deles foi alfabetização com estimulação precoce, trabalho realizado por uma fonoaudióloga, a partir dos dois anos. Com muito esforço, ele conseguiu ser oralizado e consegue falar. “Já me formei em Ciência da Computação e fiz o curso de piloto de avião”.

O primeiro desafio foi alfabetizá-lo com estimulação precoce, trabalho realizado por uma fonoaudióloga, a partir dos dois anos. Com muito esforço, ele conseguiu ser oralizado, e, hoje, fala normalmente.

Atualmente, João é casado e tem um filho. A família mora em Nova Iorque, de onde o piloto toca importantes projetos voltados aos surdos. Ele espera que as regras mudem não só no Brasil, mas em outros países que seguem com a mesma intenção.

Fonte: https://gazetaweb.globo.com/portal/especial.php?c=79454

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