Espaço traz formação e também abre caminho para mercado de trabalho
Poucos de nós paramos para pensar na importância de alguém traduzir o conteúdo de uma conversa para aqueles que não podem ouvi-la, não é? Aí está um papel da Língua Brasileira de Sinais (Libras), cujo ensino acaba de ganhar uma escola inédita em Itabuna – aliás, no sul da Bahia como um todo. Estamos falando da InLibras.
Fundada pela intérprete Roberta Brandão, a unidade funciona na Travessa Santo André, nº 96, no bairro Conceição (Em frente ao Hotel Beira Rio). A inauguração, na noite de segunda-feira (07), contou com um culto conduzido pelos pastores Geraldo Meireles e Lucília Lopes. Ambos levaram uma mensagem que exalta o valor da inclusão e, sobretudo, de garantir que todos tenham os direitos respeitados.
O pastor Geraldo evidenciou a relevância daquela escola pioneira na região e os frutos que certamente oferecerá à sociedade sul-baiana. Sobre a fundadora, ele contou ter testemunhado o início do projeto e antevê (recorrendo ao teclado nosso de cada dia), sobre o futuro da profissional: “Vai escrever em caps lock, negrito e sublinhado o que deixou da vida”.
“Um direito conquistado”
Roberta, formada em História, é especialista em Libras e Educação de Surdos, além de Gestão Cultural, e atua como tradutora intérprete de Libras na Câmara de Vereadores. Prestes a abrir o empreendimento, concedeu entrevista ao Diário Bahia, enfatizando o valor de oferecer um espaço para o aprendizado sobre a cultura surda e a Língua Brasileira de Sinais – uma exigência na comunicação contemporânea.
Ela revela que passou a estudar sobre Libras na adolescência e dali só foi se aperfeiçoando nesse instrumento crucial para a comunidade surda. Com um caminho de quase 16 anos na área, reconhece que a pandemia ampliou a necessidade de os serviços virtuais alcançarem todos os públicos.
“Nossa escola é um lugar de fortalecimento do movimento surdo. A Associação de Surdos de Itabuna, por exemplo, ainda não tinha um espaço físico e a partir de agora, haverá uma cooperação constante”, constata. Ela argumenta, também, sobre o fato de ser uma exigência legal a tradução das mensagens em Libras nos órgãos públicos.
E analisa: “Uma conquista buscada pelas pessoas surdas, que há muito já militam por esses direitos: à comunicação, à informação, ao ir e vir, a ter um atendimento médico acessível; ou ir à Delegacia da Mulher prestar uma queixa. Esses espaços não têm profissionais que garantam essa acessibilidade. Então, a demanda é imensa para uma quantidade restritíssima de profissionais qualificados”, prossegue.
Investimento
Questionada sobre tempo de formação e custos para futuros alunos da recém-inaugurada escola, a intérprete explica: o aprendizado da língua de sinais vai do básico (12 prestações de R$ 210,00), intermediário (12 de R$ 230,00) ao avançado (12 vezes R$ 250,00) – sendo que cada etapa dura, ao menos, um ano. Em todos os níveis, está prevista isenção na matrícula e 5 por cento de desconto.
Cabe lembrar, ainda, o quão oportuno é o aprendizado da língua de sinais por professores, estudantes ou demais profissionais que lidem com o público. “Ao matricular um aluno surdo, a escola precisa de profissionais que tenham domínio linguístico para lidar com aquele aluno. Não cabe mais dizer: eu não posso matricular você, a escola não está pronta. As instituições públicas e privadas, sejam escolas, bancos, precisam respeitar as diferenças e os direitos da comunidade surda”, alerta.
Devido ao tempo de pandemia, frisa, são respeitadas todas as medidas sanitárias em favor do distanciamento, limitação de alunos por turma, uso de máscara e álcool em gel. Contatos podem ser feitos pelo telefone/WhatsApp (73) 99180-4436; Instagram @inlibrasba ou e-mail inlibrasba@gmail.com
Equipe envolvida
Segundo Roberta Brandão, a InLibras conta com profissionais bilíngues (professores surdos e ouvintes) que dominam a Libras. Assim, está aberta tanto para alunos surdos como não surdos. Mais que docentes, explica a fundadora, a escola prima pelo trabalho desse grupo em variadas áreas.
“Temos desde a base na reforma profissionais que são surdos. A gente está trabalhando com pedreiros surdos, com consultores surdos, pensando o espaço com a comunidade surda”, detalha.
Ela menciona as dificuldades enfrentadas pelas pessoas surdas para acesso a postos que reconheçam a capacidade cognitiva delas. “Por falta de conhecimento, por desrespeito à legislação, ainda não absorvem esses profissionais na sua competência intelectual e aí acaba absorvendo apenas na mão-de-obra como repositor de mercadoria, mesmo quando têm formação e habilidade para atuar em outras áreas”, constata.
“É como ter de três a cinco por cento de funcionários com deficiência, mas a empresa emprega aquela pessoa com deficiência que tem apenas um dedinho colado. Ou seja, contrata alguém com uma deficiência que exija o mínimo de adequação; quer aproveitar a mão-de-obra braçal de um surdo, para que ele não precise se comunicar”, critica.
Roberta pontua, então, que a escola contribuirá para mudar esse cenário. “Entramos no mercado com a responsabilidade de acolher esse profissional e também capacitá-lo”, planeja.
Fonte: Diário Bahia