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Odrus, que esteve em instituições de ressocialização na adolescência, quer inspirar outras pessoas com deficiência e participa de mostra no Itaú Cultural

O grafiteiro Odrus, , nome artístico de Rafael Caldeira dos Santos, diz que a arte salvou sua vida. Por meio dela, deixou passado de revolta e falta de perspectiva. Agora, aos 40 anos, afirma querer inspirar mais pessoas que, assim como ele, têm deficiência auditiva ou têm menos acesso a oportunidade por limitações físicas, sensoriais, cor ou origem.

O artista conta ter vindo de um contexto de exclusão social e isolamento que o levaram a cometer assaltos na adolescência, resultando em internações em instituições de ressocialização: “Venho da periferia, de juventude de muitas privações, sofrendo preconceito e vivendo em um tempo em que havia poucos intérpretes de Libras. Fui por um caminho ruim, mas a arte me salvou. Agora, quero mostrar que, através dela, podemos ser o que quisermos”, disse o grafiteiro, que se expressa por meio da Libras (Língua Brasileira de Sinais).

Uma marca frequente em seus desenhos é a presença de um personagem negro como o artista e que usa um boné. No início, a deficiência aparecia principalmente na assinatura do artista —Odrus vem da palavra surdo, lida de trás para frente. Com o tempo, porém, o artista percebeu que nem todos entendiam a referência a sua deficiência auditiva e, por isso, ele passou a incluir sinais em Libras em parte de seus grafites, contou. Dessa forma, mais surdos poderiam se identificar com seu trabalho e se inspirar por ele, explicou.

Segundo Odrus, um amigo o apresentou a cultura Hip Hop e ao grafitti há pouco mais de 20 anos e ele logo se apaixonou por esse modo de se expressar.

Odrus conta que, no início, sofreu novo preconceito, por muitos acreditarem que seu grafite não era arte e estaria associado à ilegalidade ou à malandragem. Hoje vive de encomendas de trabalhos que recebe, principalmente para ilustrar fachadas de comércios e de escolas em Brasília, onde mora.

“Julgavam muito o que eu fazia. Mas, como eu acreditava, tive paciência de mostrar que o que produzo é arte. Foi preciso arregaçar as mangas e não desistir”, , disse por vídeoconferência, enquanto terminava de grafitar o muro de um comércio com o desenho de um homem negro tendo o carro lavado por outro homem vestindo macacão.

Para proporcionar novos encontros transformadores com a arte como o que ele próprio teve, Odrus já realizou oficinas na Fundação Casa. Questionado sobre quais são seus próximos objetivos, ele diz querer dar mais aulas para minorias e pessoas em situação de vulnerabilidade. “Meu sonho é inclusive atingir pessoas de outros países, no continente africano e na Índia”, afirmou.

O trabalho de Odrus estará em exposição no Itaú Cultural, em São Paulo, até o dia 30 de julho, como parte da mostra “Além das Ruas, Histórias do Graffiti”, que apresenta o trabalho de 50 grafiteiros. A entrada é gratuita, de terça a sábado, das 11h às 20h enos domingos e feriados das 11h às 19h, na avenida Paulista, 149.

“É muito importante ter uma pessoa com deficiência nessa exposição. É uma oportunidade de outras pessoas surdas me vejam como modelo de alguém que produz arte e em quem podem se inspirar”, afirmou.

Fonte: Folha de S. Paulo

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