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Crianças, jovens e adultos surdos ou com deficiência auditiva lidam diariamente com incontáveis desafios. Realidade que não é diferente na educação.

SÃO PAULO – Apesar de tímidas, o Grande ABC conta com políticas públicas específicas para o ensino destes estudantes na rede pública municipal. Em seis cidades – Rio Grande da Serra informou não ter matriculados –, as prefeituras atendem 192 alunos no ensino regular ou em atividades no contraturno escolar.

Santo André, São Bernardo e Diadema contam com unidades de ensino bilíngue, onde estudantes aprendem Libras (Língua Brasileira de Sinais) e português escrito. Mais do que garantir o direito à educação de qualidade, as iniciativas promovem a inclusão e abrem novas perspectivas para o futuro.

Kauã Silva Eleotério, 9 anos, é um dos 23 alunos surdos matriculados na Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Educação Fundamental) Professor Nicolau Moraes de Barros, em Santo André. A unidade integra o Polo Bilíngue de educação para surdos do município.

As aulas acontecem de segunda a sexta-feira. Nesses dias, sem falta, Kauã, que mora em Paranapiacaba, percorre 65 quilômetros _ trajeto de ida e volta feito com transporte da Prefeitura – para chegar à escola.

Nem distância nem surdez são obstáculos. Com carisma, Kauã, que tem a matemática como disciplina preferida, revela o sonho de ser médico. Ao saber dos planos do aluno para o futuro, Márcia Lopes da Silva Souza, uma das professoras bilíngues do polo andreense, se emocionou.

“Ele tem perspectiva para o futuro. A gente tem desenvolvido esse trabalho e perceber como eles eram quando chegaram e como estão hoje é gratificante. Quando ele iniciou, se fizesse uma pergunta dessas, ele não saberia responder. Eles não sabiam nem brincar. Então, saber que ele tem esse sonho é maravilhoso. Ganhei o meu dia”, disse a educadora.

Kauã e os colegas surdos contam com o suporte de três profissionais em sala de aula: professor bilíngue, instrutor surdo e intérprete de Libras. A primeira língua ensinada aos estudantes é a Libras. O português escrito é a segunda.

Até 2016, os alunos surdos eram matriculados no ensino regular da rede municipal de Santo André e tinham o auxílio de intérprete de Libras na sala de aula. “O intérprete não ensina a língua dos sinais. Ele somente media a comunicação, interpreta o que está sendo falado”, explica Rosemeire Fernandes, assistente pedagógica do Polo Bilíngue.

“Tivemos a tentativa de concentrar os alunos com intérprete em sala regular e, depois de muito estudo, formamos salas bilíngues aqui no polo, em 2019, e tem sido muito produtivo”, revelou.

Além da Emeief Professor Nicolau Moraes Barros, o Polo Bilíngue andreense é formado pela Creche Professora Yonne Cintra de Souza e pelo Centro Público de Formação Profissional Valdemar Mattei, que atende alunos com idade a partir de 15 anos na EJA (Educação de Jovens e Adultos).

Alunos ouvintes também estão matriculados nas unidades e, em parte das disciplinas, compartilham as aulas com os estudantes surdos. “Todos eles fazem, juntos, xadrez, educação física, aula de arte e outros projetos desenvolvidos pelos professores. A gente quer mesmo que tenha essa integração. O mundo não é só de surdos e a gente tem vários lugares em que as pessoas não sabem se comunicar. Então, eles também têm que se fazer entender nos ambientes e ensinar as pessoas”, avaliou Rosemeire.

Libras para jovens, adultos e comunidade

Manoel do Nascimento de Miranda, 37 anos, não se recorda em que ano parou os estudos, quando criança, para trabalhar e ajudar a família. A dificuldade para estabelecer comunicação no ambiente profissional e a vontade de aprender a escrever foram decisivos para, em 2013, voltar à escola. Antes da implantação do ensino bilíngue no polo de Santo André, estava matriculado em uma sala inclusiva.

“Minha comunicação se dá por gestos”, contou Manoel ao Diário, em entrevista mediada por intérprete de Libras. “(No trabalho) Eu tenho alguns amigos, mas como sou surdo, tenho um pouco mais de dificuldade do que os outros que são ouvintes”, disse.

Na sala bilíngue da EJA (Educação para Jovens e Adultos), Manoel está sendo alfabetizado em Libras e em português. “Achei importante retornar aos estudos, aprender as palavras, tudo certinho.”

Uma das professoras bilíngues de Manoel, Eliana Assis Amaral se orgulha ao avaliar a evolução do estudante. “Ele não conseguia escrever o nome, mas recentemente conseguiu. Ele nos contou que agora não precisa mais usar a digital para registrar que recebeu o salário”.

O ensino bilíngue para surdos, em qualquer etapa do aprendizado, é complexo. As aulas são preparadas para que os alunos compreendam contextos do conteúdo que está sendo exposto. Recursos visuais são explorados em atividades que fogem do convencional para garantir a compreensão do estudante. O esforço, segundo a professora Eliana, vale a pena.

” Eles (alunos surdos) já sofreram muito preconceito. Antes do polo, eram muito solitários. Não tinham com quem se comunicar, então ficaram num canto. Aqui eles se sentem pertencentes a esse espaço”.

NA REGIÃO

São Bernardo conta, na rede municipal, com unidade de ensino bilíngue para surdos, além de estrutura para o atendimento dos alunos no ensino regular. A escolha do recurso educacional, segundo a Prefeitura, é feita pelas famílias dos estudantes. A rede atende 103 alunos surdos ou deficientes auditivos na EJA e no ensino fundamental (1º ao 9º anos).

A Prefeitura de Diadema infomou oferecer educação bilíngue a 24 alunos surdos na EJA, no ensino infantil e no fundamental.

São Caetano atende 20 estudantes com surdez por meio do Atendimento Educacional Especializado. Os alunos aprendem Libras no contraturno escolar e, na sala regular, contam com suporte de intérprete da Língua Brasileira de Sinais.

Em Mauá, sete alunos surdos também aprendem Libras no contraturno e são acompanhados por instrutor especializado no ensino regular. O sistema é parecido em Ribeirão Pires, que atende uma aluna surda e um aluno com deficiência auditiva, na sala regular, com acompanhamento de equipe especializada.

As prefeituras disponibilizam, ainda, aulas gratuitas de Libras para a comunidade escolar. Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá afirmaram ofertar aulas da língua de sinais para profissionais da educação, familiares de alunos e moradores interessados.

Fonte: Diário do Grande ABC

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