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Colégio Monsenhor Sebastião Scarzello, de Joinville, é pioneiro no ensino concomitante das duas línguas e a manter turmas lideradas por uma professora surda.

Na Escola Municipal Monsenhor Sebastião Scarzello, no bairro Itaum, em Joinville, o contato com a Língua Brasileira de Sinais é feito em convergência com a Língua Portuguesa e as turmas são lideradas por uma professora surda, Talita Nunes Francisco, com acompanhamento de uma professora ouvinte e de intérpretes auxiliares. A unidade se tornou a primeira escola catarinense a ter ensino bilíngue concomitante em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e Português.

Em pleno Setembro Azul, mês em prol da causa e das conquistas da população surda no Brasil, a reportagem foi conhecer o trabalho da instituição.

Ensino de libras é prioridade para os alunos surdos na escola do bairro Itaum

O projeto pioneiro desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação desde fevereiro já tem a adesão de famílias de diversos bairros joinvilenses, dentre eles o próprio Itaum, Boehmerwald, Vila Nova, Parque Guarani e Aventureiro. São pais e responsáveis por três alunos com surdez matriculados na Educação Infantil e outros 11 estudantes divididos em duas turmas multisseriadas vespertinas, que vão do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.

— Todos esses alunos vieram de unidades em que eles já tinham uma professora auxiliar, mas que ficavam isolados em suas turmas regulares por não ter o convívio direto com uma professora surda e com outros alunos surdos. A diferença é que aqui eles estão juntos e as crianças têm como prioridade primeiro a língua-mãe dos surdos, a Libras. O aprendizado passou a ter significado — aponta Ilma de Souza Alves, diretora da Escola Monsenhor Scarzello.

Tecnologia e adaptação
Talita é pedagoga, tem pós-graduação em Libras e é responsável por ensinar o uso da Língua de Sinais aos alunos. Ela leciona ainda história, geografia e ciências com uma metodologia especial composta principalmente por imagens, que facilitam a compreensão da língua.

São utilizadas ferramentas como lousas digitais, tablets e imagens impressas em revistas e jornais. Isso serve de estímulo ao aprendizado da primeira língua e facilita a inserção ao ensino do Português. Essa segunda língua, assim como a matemática, fica a cargo da também pedagoga e pós-graduada em libras Camila Meier.

— Para as turmas bilíngues eu uso a bimodalidade, ou seja, tenho que falar ao mesmo tempo em que uso a língua de sinais. Então, tenho que ter essa observação de que são crianças do 1º ao 5º ano com disciplinas iguais, porém respeitando a língua deles que é a libras — aponta Camila.

Transformação no ambiente escolar

Talita Nunes Francisco é surda, pedagoga especializada em Libras e dá aula para os alunos da escola

A comunidade da Escola Municipal Monsenhor Sebastião Scarzello abraçou a ideia pioneira e começa a ver surgir nos pequenos de outras turmas uma interação maior com a Libras e o espírito da inclusão. Conforme a diretora da unidade, Ilma de Souza Alves, todos os professores da unidade têm aulas de Libras desde o ano passado e a comunidade é atendida em dois turnos ao longo da semana para aprenderem a Língua. Placas indicativas, de orientação e impressos do alfabeto em Libras estão distribuídos pela escola. Também há sistema luminoso além do sino tradicional para aviso das trocas de turno.

— Em todos os momentos a gente prioriza a libras, ensaiamos música em libras, as professoras trabalham isso e as crianças estão tendo essa interação desde pequenos. Até por isso nosso foco é a Educação Infantil, em que as trocas de experiências estão sendo constantes e eles convivem, por exemplo, na aula de artes e de educação física. Nessas disciplinas, as crianças surdas saem das salas bilíngues e vão para suas turmas de origem acompanhadas da professora intérprete — explica.

Avaliação diferenciada

Mônica e o filho Gustavo aprendem juntos a se comunicar melhor em Libras

Até mesmo a forma como acontecem as avaliações individuais dos alunos é diferente. Segundo a pedagoga Talita Francisco, há registros de atividades impressas, cadernos e provas, mas como entender Libras é de extrema importância para a evolução desses alunos, as principais avaliações acontecem em vídeo.

— Sempre uso o vídeo como recurso para melhor avaliação do aprendizado em libras, porque é um meio próprio de comunicação do surdo. Com esse método é possível, por exemplo, observar se o aluno está gesticulando e entendendo o que é ensinado da forma correta — afirma Talita.

Supervisora pedagógica da unidade escolar, Maria Fabiane Souza Israel, acompanha a evolução do ensino bilíngue Libras/Português desde a primeira turma e constata que todos os alunos acompanhados pelo projeto obtiveram ganhos, sem exceção. O retorno das famílias, segundo ela, também é positivo.

— Muitos aprenderam a se comunicar aqui, desde o básico, porque a gente recebeu crianças com histórico de agressividade e conforme as aulas avançaram, percebemos que isso parou de acontecer. Aqui o aluno surdo é compreendido nas necessidades dele, tanto pessoalmente quanto com relação aos conteúdos escolares. Nas avaliações em vídeo, conseguimos mensurar o que eles realmente aprenderam e aí a gente percebe o grande aprendizado que eles vem conquistando em todas as disciplinas — reforça Maria Fabiane.

O modelo adotado na Escola Monsenhor Scarzello começa a ser visto como uma espécie de referência para outras cidades catarinenses. Neste mês, por exemplo, alunos do ensino médio de uma escola de Arroio Trinta viajaram até Joinville para conhecer o projeto de ensino bilíngue joinvilense.

Aprendizado em família
A novidade educacional para dezenas de crianças surdas é comemorada pelas famílias que optaram pela turma bilíngue para seus filhos. Mônica Millnitz transferiu o filho Gustavo Gomes, de 10 anos, de uma escola no bairro Fátima para a Monsenhor Scarzello assim que as primeiras turmas foram abertas. Em apenas alguns meses a mãe já notou diferença no comportamento e no interesse do menino pelas aulas.

— Na antiga escola eu já lutava pelo ensino em Libras para ele e sempre busquei pelo melhor. O Gustavo tem um implante em um dos ouvidos e não aceitava dizer que ele é surdo, ele se dizia um ouvinte, e convivendo com seus pares e uma professora surda, ele também se aceitou e se reconhece assim — conta Mônica.

Ainda segundo ela, são perceptíveis os avanços na compreensão dele em libras e no entendimento do significado das palavras, enquanto ela própria vem sendo alfabetizada na língua de sinais em horários alternados pela mesma professora.

— Toda quarta-feira tenho aulas e no dia a dia com eles eu aprendo um pouco mais a melhorar minha prática de conversar em libras. Com isso eu ajudo ele também em casa com a Libras e a entender melhor o português, na leitura, na escrita. Isso para uma mãe é uma felicidade — constata.

Programação
Durante o mês todas as turmas trabalharão o tema, sendo com murais, história do surdo, linha do tempo, pessoas surdas famosas, decorações de porta, entrevistas, etc.

24/09 – Receita de brigadeiro em Libras (turma bilíngue ensina a turma do 1° ano)
25/09 – Reunião pedagógica – não haverá aula
26/09 – Dia do surdo – todos virão de azul
27/09 – Mostra do vídeo produzido pelo bilíngue sobre a escola
03/10 – Visita da professora Juliana Cipriano com sua turma de Libras no matutino para os alunos do bilíngue. Irão desenvolver algumas atividades com os alunos surdos.

Fonte: https://www.nsctotal.com.br/noticias/como-e-a-rotina-na-primeira-escola-a-ter-ensino-bilingue-em-libras-e-portugues-em-sc

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