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Itens dificultam a leitura labial entre surdos e ouvintes. Professora chegou a criar uma máscara transparente para facilitar a comunicação.

A máscara de proteção facial, uma medida de prevenção contra a Covid-19, já faz parte da realidade no mundo inteiro. Desde o início da pandemia, o equipamento é indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e no Estado de São Paulo, seu uso é obrigatório em locais públicos, estabelecimentos e afins. No entanto, a utilização do item trouxe dificuldades de comunicação para os deficientes auditivos, pela falta do apoio visual proporcionado pela leitura labial.

Esse é o caso do filho da professora Regina Di Maio, o adolescente Igor, de 16 anos, de Santos, no litoral paulista. Em entrevista ao G1, ela conta que estudante foi perdendo a audição gradativamente e, aos 7 anos de idade, ficou completamente surdo. Por ter tido um pouco de audição, o jovem foi estimulado a fazer a leitura labial para conseguir se orientar fora de casa.

“Tentamos estimular ao máximo para ele conseguir se virar na vida. Não adianta ser hipócrita, porque a sociedade não vai aprender a língua de sinais completamente na escola pelos próximos anos. Então, tínhamos que arrumar um jeito de ele conseguir se virar no mundo. Quando ele saía, se orientava dessa maneira”, afirma a mãe.

Além do problema fora de casa, devido à utilização do item, segundo Regina, a dificuldade é encontrada, também, no cotidiano entre os dois, como ao tentar falar algo para o filho e esquecer que está com a máscara. “Às vezes, você vai tentar falar e ele te cutuca: ‘você está de máscara'”, explica.

Essa dificuldade para se comunicar também colabora com a maneira como ele entende o mundo à sua volta, conforme explica a mãe. “Dificilmente um surdo jovem vai parar para pedir uma orientação, a menos que ele seja muito bem oralizado. Se ele não tiver certeza que será compreendido, não vai ‘pagar o mico’ de tentar falar. Acho que isso influencia mais nessa questão de compreender o mundo”, diz ela.

Para a intérprete de Libras Larissa Miranda Frik dos Santos, de 24 anos, a comunicação com os ouvintes também é um problema no atual contexto. Ela nasceu com surdez profunda, conforme conta, mas sempre se esforçou para conseguir se comunicar com o mundo externo. No entanto, as máscaras têm atrapalhado esse entendimento.

“Nas circunstâncias de pandemia, os surdos não conseguem se comunicar, porque todos usam máscaras. Já aconteceu comigo. Na primeira vez, fui ao médico e ele estava usando máscara. Pedi para que tirasse, e ele falou: ‘não posso tirar por causa da Covid-19’. Como me comunicar com essa dificuldade? Também falta acessibilidade”, afirma.

Ao perceber a dificuldade, a intérprete de Libras e professora Léia Lacerda de Figueiredo começou a fazer máscaras faciais transparentes, para facilitar a comunicação entre os ouvintes e pessoas com deficiência auditiva. Ela tomou a iniciativa após observar uma aluna que não usa a língua de sinais, apenas a leitura labial.

Apesar de confeccionar o item adaptado, ela relata que é difícil ver pessoas usando ou vendendo algo do tipo, e que ainda falta acessibilidade. “Só ouvi falar de mais umas pessoas que fazem, mas nunca vi vender na rua. Cheguei a ver apenas uma pessoa usando”, explica.

“Se a nossa vida já está difícil, a deles, então… Existem sinais que necessitam muito da boca, e a máscara também atrapalha as expressões faciais. Muitas pessoas se recusam a permitir que os surdos tirem as máscaras para lerem os lábios, e muitas também não tiram para eles lerem os lábios deles. O bom é que, de quebra, ainda dá para usar batom com elas”, brinca.

Fonte: G1

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