A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) promove até esta sexta-feira (27) um projeto inédito para a comunidade de pessoas surdas no Brasil: uma oficina de verão em que estudantes surdos do Ensino Médio poderão criar vocabulário de matemática em Libras, reduzindo as dificuldades de compreensão existentes em sala de aula.
A proposta do “Matemática+Libras”, iniciada no último dia 16, é promover e enriquecer o vocabulário de termos matemáticos que, eventualmente, não existam ou não sejam disseminados na Língua Brasileira de Sinais, reduzindo assim as dificuldades do processo de aprendizagem.
Ao todo, 14 estudantes do Ensino Médio de cinco estados – São Paulo, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e Pará – foram selecionados. São três alunos de escolas privadas e 11 de escolas públicas que ficarão hospedados por duas semanas no campus da Unicamp. O projeto é totalmente gratuito e a Unicamp arcará com os custos de hospedagem e alimentação.
Os participantes irão estudar e resolver problemas matemáticos diversos, em Libras, gerando situações que propiciem o desenvolvimento de vocabulário. Ao final, gravarão pequenos vídeos resolvendo problemas matemáticos e utilizando os sinais que tenham desenvolvido. A programação também prevê atividades sociais e uma vivência no campus da Universidade.
O programa é realizado pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Unicamp (Proec) e organizado pelo Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) e Olimpíada de Matemática da Unicamp (OMU).
Dificuldades de aprendizagem enfrentadas
Francisca Aglaiza Romão Sedrim Gonçalves, professora de Matemática da rede pública do Estado do Ceará e uma das idealizadoras do projeto, conta que ao fazer seu primeiro curso de Libras descobriu que não havia sinalário (reunião de sinais manuais) para muitos dos termos da matemática.
“Muita coisa na matemática é visual ou palpável, mas a língua é extremamente importante na construção do conhecimento. Não se vê professor de matemática apresentando um resultado ou provocando os seus alunos em silêncio. Por mais que seja possível ensinar matemática utilizando recursos visuais, a língua materna é um canal de aproximação entre o aluno e o objeto de estudo”, explica.
Diante desse contexto, a Unicamp reconheceu a importância de apoiar a iniciativa. Fernando Coelho, pró-reitor de Extensão, explica que o projeto visa atender uma demanda grave, mas desconhecida do grande público. “Dessa forma, a Unicamp faz uma contribuição valiosa para que, com o tempo, tenhamos uma política pública que atenda às demandas das pessoas surdas, ampliando esse esforço também para outras disciplinas além da matemática”, disse.
Marcelo Firer, professor do IMECC e responsável por levar o projeto à Unicamp, avalia que nessa primeira oficina será possível explorar um caminho para, ao menos, reduzir os problemas na educação de pessoas surdas. “O projeto foi concebido para que os alunos selecionados tenham uma vivência rica e um crescimento matemático, ao mesmo tempo que possam contribuir para o enriquecimento da comunidade surda”, afirma.
Fonte: Diário Campineiro