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‘Movimento de escuta’, com a Cia de Dança Som, está em cartaz do Sérgio Porto, no Humaitá

Cinco jovens artistas vão apresentar no Espaço Sérgio Porto, no Humaitá, desta sexta-feira (17) até o dia 26, um espetáculo de dança que reúne movimentos do funk e do passinho, estilos enraizados nas periferias cariocas, combinados a elementos de poesia e artes visuais. “Movimento de escuta” poderia ser só mais uma boa opção cultural não fosse por um aspecto: todos os atores-bailarinos são deficientes auditivos. Sob a direção de Clara Kutner, eles mostram que sacudir o corpo em movimentos ritmados sem ouvir e declamar versos sem emitir sons são só dois dos desafios que pessoas com esta característica enfrentam. Romper a linha da invisibilidade no dia a dia é o maior deles, também retratado na montagem.

A coreografia de “Movimento de escuta” é da dançarina Celly IDD, referência na vertente que ficou conhecida como Passinho Foda. Os ensaios são no Instituto Nacional de Educação para Surdos (Ines), em Laranjeiras, onde Clara Kutner conheceu os cinco protagonistas do espetáculo há cinco anos, durante a pesquisa para uma residência artística.

Este é o terceiro trabalho que ela realiza com o quinteto. O primeiro foi a instalação “Som, uma coreografia para surdos, apresentada em 2019 no Oi Futuro Ipanema. Durante a pandemia, o grupo criou o projeto de videodança “Já”, com oito episódios. Foi quando surgiu o embrião da Cia de Dança Som. Agora, os bailarinos assinam junto com a diretora o roteiro de “Movimento de escuta”, fortemente influenciado por suas histórias de vida. As artes visuais, por exemplo, entraram no espetáculo naturalmente, já que um deles, Alef Felipe, é também artista plástico. Parte da cultura da periferia, as batalhas de slam, ou disputas de improvisação poética, são outro ponto alto da encenação, e travadas em libras.

— “Movimento de escuta” mistura dança e arte surda. Fala da experiência dos dançarinos e da comunicação. Escutar é algo profundo, que vai muito além da audição; é uma chave que precisamos virar. Falta muita escuta no mundo contemporâneo — diz Clara.

A diretora conta que começou a desenvolver a dança com pessoas com deficiência auditiva em 2018, e logo criou uma oficina em parceria com o ator surdo Bruno Ramos, a Dança com Libras. Desde então, o trabalho tem sido contínuo:

— Sempre sou muito bem recebida quando levo a ideia da dança para pessoas surdas. Sinto que esse é o começo de uma estrada longa para a Cia de Dança Som. Surdos podem e devem dançar.

A iniciativa a estimulou a aprender a língua brasileira de sinais, na qual, diz, todos deveriam ser fluentes.

— Comecei a estudar libras, mas tenho bastante dificuldade. Entendo bastante coisa, mas, na hora de falar, minha cabeça dá um nó. É fundamental ter libras no aprendizado escolar. Essa é uma campanha muito importante para fazermos no Brasil — defende.

“Movimento de escuta” tem apoio do Ines e incentivo da prefeitura do Rio, através da Secretaria municipal de Cultura, por meio do Programa de Fomento à Cultura Carioca (Foca).

O ingresso é por contribuição voluntária. A estreia, nesta sexta-feira (17), será apenas para convidados. Depois, a temporada segue com duas apresentações, às 16h e às 18h (na segunda semana, haverá espetáculo também na quinta-feira). A classificação etária é 16 anos. É bom chegar cedo: a Sala Multiuso do Sérgio Porto, que abrigará a montagem, tem apenas 20 lugares.

Fonte: O Globo

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