Mesmo nas aulas gravadas, a tradução para Libras é necessária para o aprendizado dos estudantes surdos em casa.
Alunos surdos da rede pública de educação do Tocantins estão com dificuldades de aprendizado pela falta de acessibilidade nas aulas online. Mesmo nas aulas gravadas, não há o suporte de intérprete, o que prejudica a compreensão dos estudantes surdos do conteúdo.
Alguns deles contam com a ajuda de intérpretes online, como é o caso da acadêmica Thalia Bianca Magalhães. A estudante de engenharia agronômica no IFTO revisa o conteúdo na internet, mas é uma das poucas que tem este privilégio
“É muito melhor quando você consegue interagir, conversando e também durante o estudo eu consigo evoluir muito mas e tem sido muito melhor com a ajuda dos interpretes”, afirma Thalia.
A facilidade ainda não é a realidade de todos. As aulas remotas disponibilizadas pelo estado para as escolas de ensino médio não contam com o suporte de intérprete, uma falta que prejudica os alunos que precisam da tradução para libras.
A cabelereira Eliete Martins é mãe da Lorraine, que estuda no 3º ano do ensino médio. Ela explica que a filha tem dificuldades em absorver o conteúdo das aulas por causa da falta de intérpretes.
“Eu perguntei para ela se ela conseguia aprender, que ela vê os vídeos, se ela conseguia aprender. Ela disse para mim que não, que é muito ruim. E eu perguntei para ela se ela fica triste com essa situação ela disse para mim que sim”, relata Eliete
“É muito triste, muito revoltante você pegar um livro desses e dar para ela. Ela não vai entender nada, é como se ela estivesse vendo um… nem sei te dizer, um bicho de sete cabeças e ela não consegue resolver. Então o que eu queria cobrar das autoridades é um estudo mais digno e melhor para estas crianças”.
A intérprete Regiane de Souza, explica que a necessidade do estudante surdo ter o suporte à tradução para libras é fundamental para garantir um ensino de qualidade.
“Os surdos eles são mais visuais. Hoje a maioria das matérias, os professores eles tem colocado o conteúdo em texto, em português. E é importante o trabalho do tradutor intérprete de libras porque eles podem dar esse suporte, tanto para o professor para ele poder saber e entender como é o aprendizado do surdo como também para o próprio surdo por fazer adaptações necessárias”.
Arlindo Nobre é o primeiro advogado surdo do Tocantins, ele faz parte da Comissão do Direito da Pessoa com Deficiência da OAB. O advogado explica que a educação é uma obrigação do estado, e oferecer ferramentas para auxiliar no aprendizado do aluno surdo é um dever que precisa ser cumprido. “A educação enquanto direito fundamental deve ser garantida pelo estado. E no caso das pessoas com deficiência a acessibilidade à educação tem que ser garantida com prioridade legal”
“Em caso de negativa do órgão, da escola ou da secretaria de educação e até mesmo do próprio estado em fornecer estes recursos específicos de acessibilidade à pessoa com deficiência ou seu representante legal, ela deve procurar um advogado privado para entrar com ações específicas em defesa dos seus direitos”, explica.
A Secretaria de Estado da Educação, Juventude e Esportes (Seduc) informou por meio de nota que a plataforma digital foi disponibilizada as unidades de ensino e professores da rede estadual, no entanto, cada colégio possui autonomia para desenvolver ações para complementar as atividades não presenciais elaboradas pela Seduc para a rede estadual. Além disso, o órgão disse que irá encaminhar às escolas orientação para que as atividades complementares contemplem a diversidade.
Fonte: G1